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As Plantas Aquáticas e a Qualidade da Água

É do conhecimento de todos nós que todos os seres vivos são formados por grandes conjuntos de minúsculas unidades vitais denominadas células. Existem, é claro, grandes diferenças entre animais e vegetais. Porém, são muitas as características comuns a animais e vegetais a nível celular, dentre elas o fato de ambos possuírem um citoplasma (material intracelular) envolvido por uma membrana permeável pela qual são feitas as trocas de oxigênio, gás carbônico, nutrientes e dejetos, com o sangue, no caso dos animais, e com a seiva, nos vegetais. Essas trocas ocorrem pela permeabilidade da membrana celular orientada por um fenômeno conhecido como osmose: a diferença de pressão osmótica, causada pela diferença de concentração entre as soluções do lado de dentro e do lado de fora da membrana, é portanto, de vital importância no metabolismo dos seres vivos.

O pH e o grau de dureza da água interferem na pressão osmótica, influenciando, assim, no desenvolvimento dos seres aquáticos. Isso explica em parte o fato de um mesmo peixe ou planta aquática muitas vezes se desenvolver bem no aquário do amigo e não no nosso. Seres aquáticos sofrem muito mais influência direta das características químicas da água em que vivem do que os seus similares terrestres, pelos motivos que acabamos de citar. E as plantas aquáticas, a médio e longo prazo, sentem mais os seus efeitos que os peixes.

Assim, devemos dar especial importância aos métodos de tratamento da água de nossos aquários, sem falar na opção de qual água utilizar neles. Se você reside no interior desse nosso imenso país terá, talvez, a facilidade de obter água natural de nascente, por exemplo, ou de riachos não poluídos para usar em seus aquários. Mas, a grande maioria dos aquaristas, nas cidades grandes, terá que se contentar em utilizar a única disponível: a água de torneira, que vem carregada de diversos elementos que a tornam, em algumas cidades, bastante alcalina (pH acima de 8.0), ligeiramente dura, e com o cloro como anti-séptico .

O primeiro passo será a eliminação do cloro que, além de ser nocivo aos peixes, ataca também as bactérias que atuam no ciclo do nitrogênio. Para isto existem produtos específicos denominados "anti-cloro" à venda nas lojas especializadas. Eu, particularmente, aconselho que a adição desse produto seja feita longe dos peixes, ou seja, fora do aquário: aplique o anti-cloro na água a ser colocada como reposição que esteja ainda em vasilhame separado, de preferência graduado, para melhor dosagem. Espere o tempo indicado e só depois disso introduza a sua água "tratada" no viveiro: alguns desses aditivos podem envenenar seus peixes durante as reações químicas de eliminação do cloro.

A seguir, faça a correção do pH conforme necessário: a menos que você tenha ou deseja ter um aquário de ciclídeos africanos, terá que usar um acidificante para corrigi-lo. Produtos para esse fim também são fáceis de encontrar nas lojas. Existem, porém, alternativas para acidificação gradual ou de aquários de grande porte, que economizam alguns "trocados": uma delas é o uso das folhas de tamarindeiro, secas ao sol e colocadas dentro de um saquinho de "molho" no filtro externo, pelo número de dias necessários para se chegar aos valores desejados. A presença de troncos e xaxins na decoração do aquário também conduzem à acidificação gradativa; porém, devem ser tomados alguns cuidados com o acúmulo de fenóis, para que isto não cause danos ao equilíbrio biológico (falaremos desse assunto em matéria específica, futuramente).

Paralelamente ao pH, devemos estar atentos para o grau de dureza da água (dH), em especial à chamada "dureza de carbonatos" (KH), gerada pela presença de objetos contendo carbonatos e bicarbonatos (conchas, mármore, dolomita, entre outros). Em aquários de água doce, os testes de dureza de carbonatos deverão acusar sempre valores entre 3º dH e 10º dH (escala alemã). Geralmente este tipo de teste específico tem sido deixado de lado, pois os valores de dureza estão sempre estreitamente ligados aos do pH: como os carbonatos são alcalinizantes, águas ligeiramente alcalinas também são ligeiramente "duras"; do contrário, quanto mais baixo o pH (ligeiramente ácida), menos carbonatos teremos e a água será mais "mole" ou "macia". Os carbonatos tem um papel importante no aquário, pois desempenham a função de "tampão" químico do pH, evitando uma alteração demasiado grande e rápida do seu valor (queda brusca, por exemplo). Há ainda uma grandeza denominada Dureza Total - GH, que deverá oscilar entre 6º e 16º dH nos aquários de água doce, que é determinada pela concentração de vários sais, especialmente dos sais de cálcio e de magnésio. Quanto maior essa concentração, mais "dura" será a água. Está, também, intimamente ligada ao pH e comporta-se de maneira semelhante à dureza de carbonatos.

Feita a adequação da água de nosso viveiro ao biótopo que desejamos imitar (ligeiramente ácido, neutro ou alcalino), no caso de aquário novo, devemos partir imediatamente para a ciclagem biológica, ou seja, a formação das colônias de bactérias nitrificantes, observando os índices de amônia, nitritos e nitratos ao longo do processo .

Isso feito, devemos zelar para que o equilíbrio biológico não seja quebrado. Todo aquarista deve analisar periodicamente a água de seu(s) aquário(s), através dos kits de testes à venda nas lojas especializadas. Se os resultados obtidos não forem satisfatórios, isso é sinal de que algo vai mal e o ecossistema não está "funcionando" corretamente: além de peixes apresentando sinais de mal-estar, suas plantas aquáticas começarão a definhar, e isto é só o começo do desastre. Com as plantas morrendo, o ciclo do nitrogênio será quebrado e haverá concentração de nitratos a níveis perigosos, coisa que plantas de plástico não vão mudar em nada.

Não existe nenhuma fórmula "mágica" para a obtenção da água ideal. Cada aquário representa um biótopo único, com condições, em particular, muito diferentes. No entanto, existem alguns cuidados a serem tomados para limitar a contaminação do viveiro, mantendo a qualidade da água dentro de limites aceitáveis, para que o aquário "funcione" bem:

1 - Nunca despreze a mudança parcial periódica da água: tal como acontece na natureza, a renovação parcial da água deve ser feita com frequência; troque 1/4 a 1/3 da água do aquário pelo menos de 2 em 2 ou de 3 em 3 semanas, sendo preferível mudar semanalmente cerca de 10% do volume total. Trate a água de torneira sempre antes de introduzi-la no tanque.

2 - Faça a sifonagem do solo (cama) na mesma operação em que fizer a troca parcial da água, utilizando um aspirador próprio para tal: isso reduz bastante a contaminação de seu viveiro. Faça, também, o corte de galhos e folhas amarelas ou mortas.

3 - Não confie a limpeza do seu aquário exclusivamente ao seu filtro biológico: mantenha também um bom filtro mecânico funcionando 24 horas por dia, de preferência externo, trocando o material filtrante sempre que se fizer necessário.

4 - Não promova uma superpopulação em seu aquário: quanto menos peixe, melhor! Use a "regra dos centímetros": um centímetro de peixe para cada litro d'água, no máximo.

5 - Não superalimente seus peixes: depois de algum tempo, principalmente em aquários antigos, eles perdem a timidez e ficam "pedindo" comida toda vez que alguém se aproxima. Não caia na "conversa" deles! Ofereça uma dieta equilibrada, não só na qualidade, mas também na quantidade.

6 - Evite o uso de medicamentos na água de seu(s) aquário(s): peixes doentes devem ser retirados e tratados em separado. É bom manter sempre um aquário-hospital, com a capacidade de 20 a 30 litros, sem plantas ou areia, equipado com aquecedor e termostato, para efetuar tal tarefa. A maioria desses remédios é prejudicial à vegetação do aquário. O Azul de Metileno, comumente usado para combater o Íctio, por exemplo, é venenoso para as plantas aquáticas. Evite também as chamadas "doses preventivas": não se justifica medicar quem não está doente. Faça quarentena regularmente em seus peixes recém-adquiridos para não ter aborrecimentos subsequentes. Algicidas podem ser muito bem (e saudavelmente) substituídos por peixes especialistas em algas, como os cascudos da família Loricaridae. A maioria dos caramujos também são inofensivos, e podem sem retirados manualmente, com um pouquinho de paciência (característica comum aos aquaristas!), ao invés de se usar "caramujicidas".

E por fim, não economize nas plantas! Use e abuse da vegetação aquática: quanto mais plantas, mais saudável, mais bonito e mais harmonioso será seu aquário!

Boa sorte!


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